segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Spleen de Paris, de Charles Baudelaire


Spleen de Paris, de Charles Baudelaire, é a obra que José Miguel Braga leva à Comunidade de Leitores da Velha-a-Branca, no próximo dia 3 de Novembro, às 21h45.

Sobre a obra, diz José Miguel Braga:
"O conjunto que hoje é conhecido como Spleen de Paris foi publicado em 1869, dois anos depois da morte de Charles Baudelaire. Os pequenos poemas em prosa estão vivos, fervem numa cidade doente, onde a flor do mal inscreve a sua aura e se liberta. E então oiço, como se estivesse a sós comigo ou nos reuníssemos para ler:

III ENLEVO

(…)
Voa
Longe destes miasmas mórbidos
Torna-te puro nessa atmosfera mais alta
E absorve a energia essência e divina O fogo
De um claro saboroso que paira nos espaços límpidos

Feliz
Aquele que com um golpe de asa vigoroso
Consegue alçar-se para os campos luminosos e serenos
Longe mas no seio das tristezas e das vastas mágoas
Que pesam tão pesadas sobre as existências de bruma
(…)

In, As Flores do Mal, trad. de Maria Gabriela Llansol (Lisboa: Relógio D’Água, 2003)

Lemos um livro na incerteza da transmissão histórica, supomos importâncias com seu ar de preocupação defunta e com o rigor do estudo naufragamos na observação ecdótica. Então procuramos uma velocidade que nos permita ouvir ainda o poema e quando chegamos é o poeta que se atreve a resumir a situação:

'Apesar do contributo de alguns célebres pedantes para a estupidez natural do homem, nunca me passou pela cabeça que a nossa pátria pudesse enveredar tão célere pela senda do progresso. O mundo actual adquiriu uma tão densa vulgaridade que o desprezo que revela pelo homem espiritual tomou a forma violenta de uma paixão.' In, Prefácio das Flores (para a 2ª ed. 1861) Op. Cit.

Numa reunião de leitores acontece o que houver. O Spleen de Paris é o estrondo de uma auréola que vem caindo desde o princípio deste absurdo que vem eliminando da nossa temporalidade a fruição do autêntico."

José Miguel Braga, professor entre a língua portuguesa e o corpo do actor. Publica pouco e agora, por razões que lhe escapam, escreve.